O Segundo Simpósio Saad começou com a palestra "Histórias Passadas, Problemas Presentes". Subiram ao palco os professores doutores Paulo Arantes, da USP, e Fabiano Ferandes, da UFRJ e UNIFESP. Como mediador, o professor Gustavo Miragaia iniciou a discussão com a pergunta, dirigida ao professor Fabiano, sobre onde se iniciou a intolerância, marca do nazismo. O professsor doutor começou sua explicação com a legitimação da guerra. Voltando ao Império Romano, quando o cristianismo se tornou a religião oficial, o conjunto de leis estabelecido se voltou à perseguição daquilo que era considerado heresia. Ao longo do século IV assistiu-se `a destruição de templos e imagens e A agressão as religiões ditas pagãs. Estabeleceram-se doutrinas para a justificação da guerra. A guerra é considerada permitida quando é feita para reparar um mal, para a expansão de uma ideia hegemônica. Essa legitimação da guerra se torna fundamental para o entendimento do que ocorreu na Segunda Guerra Mundial.
O professor Gustavo Miragaia dá continuidade perguntando ao professor Arantes qual a especificidade do nazismo como forma de intolerância. O doutor diz nunca ter analisado o nazismo sobre esse ângulo, explicando que a tolerância como um valor universalmente buscado só surge com o Iluminismo, mas, ainda assim, não é o conceito que conhecemos hoje que se estabeleceu entre esses pensadores. O antissemitismo, visto muitas vezes como característica exclusiva de Hitler, na verdade estava presente em toda a Europa. A questão de intolerância nazista não foi o ponto principal da guerra, que foi em grande parte devido à questões geo-política, portanto, é difícil analisar o governo do terceiro Reich unicamente sob este ponto de vista.
O professor Fernandes continua a análise explicando que o antissemitismo estava enraizado na sociedade. Nos séculos XI e XII, os judeus ainda eram vistos como aqueles que crucificaram Jesus Cristo, e muito do que se viu na Segunda Guerra, no século XX, está relacionado com os pensamentos que se mantiveram durante séculos. Levanta-se então a questão do preconceito atualmente. Ele estaria baseado unicamente em questões econômicas ou teria ele se espalhado para toda a sociedade? O professor Paulo Arantes explica, embora diga que não tem uma base em pesquisas para este pensamento, que a dualidade vista na Guerra, a questão de democracia e tolerância contra intolerância e nazismo, não era verdadeira, mas estabeleceu-se uma visão de que Hitler era o inimigo da humanidade como um todo, e que a guerra era uma questão de sobrevivência da civilização. Esta visão dualista se mantém até hoje se estendendo também para os conflitos entre a direita e a esquerda, criando-se uma série de preconceitos. Antes, Hitler era visto como o inimigo comum, mas agora não temos mais um inimigo específico, o inimigo se torna qualquer um que pensa de forma diferente, e a intolerância se espalhou de todos para todos. Vale lembrar, também, que Hitler foi eleto de maneira democrática pelo povo alemão. O ódio se estabelece entre iguais na base da pirâmide social.
A discussão prossegue com a menção do escritor português Mia Couto, e sua visão sobre o medo. O professor Fernandes comenta que o medo surge, especialmente nos séculos XII e XIII como instrumentos de poder. O medo é valiosos, ele estabelece os limites do que é pensável. Nesses séculos, o medo não era morrer, o medo era ir para o inferno, e todo um sistema se constituiu em torno disso. Dando continuidade aos temas levantados, o professor Paulo, baseando-se no filósofo Hobbes diz que o próprio Estado surge por causa do medo, e a legitimação de seu poder se baseia no oferecimento de proteção. Teme-se desde o assaltanto no semáforo até a falta da água. Assim, a oferta de segurança é essencial na delegação de poderes plenos aos governantes.
Por fim, para terminar a primeira mesa redonda do Simpósio, Fernandes respondeu a uma pergunta sobre a imagem que se faz da Alemanha nazista como símbolo do preconceito, dizendo que essa ideia se estabeleceu por causa dos vencedores da guerra, já que mesmo nos Estados Unidos existiam grupos que simpatizavam com o fascismo. A mesa mostrou, portanto, que o preconceito e a intolerância não são exclusividades do nazismo, mas estiveram sempre presentes na sociedade.
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